“O mercado de ações foi feito para transferir dinheiro dos investidores ativos para os pacientes.” Warren Buffett
Nesta semana saiu a publicação da Revista Forbes, com os 315 bilionários brasileiros onde destacamos que alguns destes são do setor da Educação como, por exemplo, João Carlos Di Gênio (UNIP) na 77ª posição do ranking, com fortuna estimada em R$ 7 bilhões, Oto de Sá Cavalcante (ARCO) com R$ 4,7 bi, Chain Zaher (ex-Estácio) com R$ 3,4 bi e Fábio F. Figueiredo e Renato Padovese (Cruzeiro do Sul) na 270ª posição com R$ 1,3 bi cada.
Com base nos exemplos e biografias dos nomes citados, não podemos negar que o investimento na Educação tem dado retorno financeiro aos seus precursores, bem como formado e consolidado milhares de carreiras em nosso país. Porém, em contraponto, os resultados das Empresas de capital aberto do setor educacional, que estão cotados na Bolsa, têm apresentado desempenhos abaixo das expectativas do mercado. Por que isso está acontecendo?
Conforme acompanhei os diversos relatos dos CEOs, CFOs e áreas de RI das empresas deste setor, em seus comunicados ao mercado, o período da pandemia foi e será um divisor de águas para os que se tornaram, conforme o conceito do Nassim Taleb, antifrágeis diante das turbulências enfrentadas no período. Isso tudo, sem deixar esquecer que o sistema da graduação era bem dependente do FIES, para uma boa taxa de matrículas e redução da evasão.
Quais são os principais drivers das empresas voltadas à Educação?
Ao analisar os relatórios dos desempenhos trimestrais das cinco empresas citadas, os principais pontos são: Receita Líquida, crescimento orgânico, Base de Alunos, Ticket Médio, número de Unidades/Polos e Taxa de Evasão.
O que aconteceu e qual o cenário previsto para o setor?
No período da pandemia, várias Escolas e Faculdades sucumbiram diante dos efeitos de cancelamentos de matrículas, solicitações até abusivas de descontos por estarem estudando de forma remota, alta taxa de evasão e inadimplência.
Por lógica, este foi um dos setores que conseguiram dar velocidade, adaptabilidade e continuidade nas aulas, mudando de um sistema presencial para o híbrido de forma muito rápida.
As escolas, que ficaram esperando a quarentena passar, achando que seriam apenas 15 ou 30 dias, sofreram e muito, pois ao abandonarem um cronograma e planejamento, deixaram os seus alunos à deriva, sem aulas, sem um posicionamento claro institucional e sem informações. Claro, os alunos e/ou seus pais foram pra cima solicitando descontos, cancelamentos ou suspensões das matrículas, pois estavam pagando por serviço não recebido.
As escolas com a característica antifrágil viram no caos uma oportunidade. Migraram rapidamente para o ensino remoto e, nesta transição, cabe o Reconhecimento da proatividade de muitos Professores que, com o devido senso de urgência, se viraram nos trinta, instalaram um melhor sinal, investiram por conta em equipamentos melhores, para darem um jeito de não perder o contato os alunos, conseguirem dar continuidade nos conteúdos da disciplina e manter a frequência e retenção em aula.
Com todo e devido respeito às empresas que iremos abordar, sem os professores assumirem as rédeas e o protagonismo diante dessas circunstâncias, os resultados seriam mais complicados. Parabéns!!!
Essas Escolas/Faculdades foram se virando com as plataformas que estavam disponíveis no mercado (Teams, Google Education, Zoom etc.) até acharem um formato mais adequado ao seu método de ensino.
As que sobreviveram, e neste blog vamos comentar destes cinco players importantes no mercado, saíram fortalecidas desse processo.
Um ponto comum entre estas cinco empresas: a educação híbrida, e com qualidade, está num processo de adaptação, mas vivendo uma mudança de realidade que talvez seja permanente.
Este setor tem diante dele, agora um Consumidor (Aluno) cada vez mais exigente na prestação de serviços educacionais, com QUALIDADE, pois eles também são parte da história na transformação digital deste ecossistema, pois muitos desses alunos, além do ensino remoto, também vivenciaram o trabalho em home office e compreenderam todos os efeitos positivos dessa transformação, com foco em dois importantes itens: redução de custos, pois não podemos achar que o custo deste aluno era restrito apenas à mensalidade, mas, também, com deslocamento e alimentação que foram reduzidos com o ensino remoto. E por que cito a Qualidade? Pois esses alunos compreenderam a diferença entre um Ensino Remoto, com a presença ativa do professor, na mediação dos temas, e interação, de um Ensino à Distância (EaD), com conteúdos prontos há muito tempo, às vezes sem atualizações e com aulas gravadas, sendo algumas de qualidade questionável.
Como está o desempenho das empresas na Bolsa até o momento?
Bom, se você é um novo investidor na Bolsa, ou deseja resultados imediatos, talvez se assuste com o desempenho atual nas cotações destes cinco competidores. Nestes casos, podemos ter boas oportunidades, contanto que seja para o longo prazo, de comprar ações. Todas elas praticamente estão investindo fortemente em tecnologia, aquisições e expansão, e no curso de Medicina devido à alta demanda e ticket médio elevado. Podemos ter, em breve, várias novas aquisições que mudarão o market share deste mercado.
Vale uma observação no quadro acima, para a Cruzeiro do Sul Educacional, pois a empresa abriu o seu capital em fevereiro deste ano, por isso não foi avaliado o seu crescimento de Receita nos últimos cinco anos.
Nas colunas da planilha temos a cotação da última sexta de setembro (24), o desempenho neste ano de 2021 (de 4 de janeiro até agora) e o desempenho nos últimos 12 meses (24/09/20 até 24/09/21), a Receita de Vendas nos últimos 4 trimestres (as empresas de capital aberto são analisadas trimestralmente), o quanto cada empresa cresceu em sua Receita de Vendas nos últimos 5 anos, sua margem EBIT (Lucro antes dos juros e impostos), base total de Alunos e seu crescimento no período (obs. o incremento na base de alunos da Ânima já vem com o efeito da operação com a Laureate, por isso não se deve olhar como se fosse um crescimento orgânico.
Segue um breve histórico de cada uma destas empresas:
ÂNIMA EDUCAÇÃO (ANIM3)
Empresa brasileira fundada em 6 de maio de 2003. Se trata de uma das maiores organizações educacionais privadas de ensino superior no Brasil. Seu CEO é o Marcelo Battistella Bueno. A empresa tem seu foco voltado para a educação no ensino superior e possui algumas instituições conhecidas nesta área como: Universidade Anhembi Morumbi, Universidade São Judas, HSM, Le Cordon Bleu, UNA, entre outras.
Em 2020 a Ânima Educação assinou um contrato com o Grupo Laureate, que resultou na aquisição de todos os ativos brasileiros do grupo. O valor estimado da operação ficou em R$ 4,4 bilhões, sendo R$ 3,777 bilhões a serem pagos a Laureate e R$ 623 milhões de dívidas dos ativos que foram assumidos pela Ânima. Em junho deste ano as operações foram integradas.
A empresa tem uma agenda clara ainda na busca de novas aquisições para a expansão do grupo. É primeira instituição do país a criar um modelo educacional focado em competências. Uma outra novidade do grupo é que a Ânima se uniu a uma aposta de R$ 800 milhões em residências estudantis, numa parceria com a startup de residência estudantil Uliving para ter 15 prédios próximos aos campi.
COGNA EDUCAÇÃO (COGN3)
Empresa que atua na área de educação, tanto no Ensino Superior Presencial como à Distância, além de Educação Básica. Antigamente chamada de Kroton, a empresa sofreu uma reestruturação em 2019. Seu CEO Rodrigo Calvo Galindo.
A empresa tem quatro business essenciais: Kroton, Platos (foco no Ensino Superior com sistemas de ensino para plataformas nas Faculdades), Saber (foco no público de mais alta renda, com ticket médio alto) e 78% da Vasta Educação (tem o foco no Ensino Básico). Possui marcas como Anglo, Pitágoras entre outras, mais o sistema de ensino Eleva (quinto maior sistema de ensino do país em número de alunos de escolas parceiras, com 176,8 mil alunos).
A empresa pretende fechar ou readaptar algumas unidades, transformando-os em polos de ensino à distância.
CRUZEIRO DO SUL EDUCACIONAL (CSED3)
Fundada em 1965 por Hermes Figueiredo e Gilberto Padovese, onde, além da própria marca Cruzeiro do Sul, atualmente ela é dona de marcas como a Unicid, Universidade Positivo e Braz Cubas. O CEO atual da Companhia é Fábio Marcel Fossen, sendo este o primeiro executivo que não faz parte da família fundadora.
Em fevereiro de 2020, a empresa realizou sua Oferta Pública Inicial (IPO) e levantou R$ 1,23 bilhão, sendo que R$ 1,07 bilhão foi para o caixa. Esta abertura de capital foi realizada para o objetivo de investir 90% desse valor captado em fusões e aquisições, além do investimento no crescimento orgânico da companhia.
Dentre as estratégias citadas no RI da Companhia estão no início da operação de 37 Polos Hub de EaD, com laboratórios específicos, para atividades práticas dos cursos de Engenharia (Ambiental, Elétrica, Mecânica e Produção), além dos cursos de Biomedicina, Farmácia, Gastronomia e Nutrição.
ESTÁCIO PARTICIPAÇÕES (YDUQ3)
A YDUQS é a marca da Estácio Participações, iniciada em 1970 como Faculdade de Direito Estácio de Sá. Possui atuação focada no Ensino Superior. A companhia foi constituída em 2007, ano em que realizou seu IPO, e está listada no segmento do Novo Mercado da Bolsa, com ações ordinárias.
A empresa é formada por uma universidade, dez centros universitários e 37 faculdades credenciadas pelo MEC. Seu CEO Eduardo Parente.
Presente em todos os estados brasileiros, a YDUQS também se destaca pelo Ensino à Distância (EaD), que soma 674 polos. A empresa oferece cursos nas áreas de Ciências Exatas, Ciências Biológicas e Ciências Humanas, em graduação tradicional e tecnológica.
SER EDUCACIONAL (SEER3)
Empresa fundada em 1994, com sede em Recife, Pernambuco.
No início a empresa surgiu como uma instituição de ensino para preparar as pessoas para os concursos públicos. Com novas aquisições a partir de 2003, a companhia conseguiu dar o pontapé inicial para ser o grupo educacional que é hoje.
A Ser Educacional está presente em cerca de 11 estados brasileiros, com maior participação nas regiões norte e nordeste. Suas fortes marcas regionais são: Unama, Uninorte, UNG, Univeritas, entre outras.
Dentre as estratégias por aquisição, a empresa fez compras de Faculdades de Medicina no seu centro de atuação; e para o crescimento orgânico, a empresa está investindo na ampliação de cursos presenciais, híbridos e online. Estabeleceu também uma parceria, para a educação continuada, com a Go Cursos, plataforma com mais de 4 mil cursos online.
Lembramos que não se trata de recomendação de compra, mas sim, a proposta do blog é que vocês conheçam um pouco mais deste setor, o qual nos traz perspectivas muito boas para esta retomada e para os próximos anos. Façam a lição de casa, acessando os links disponíveis e as fontes consultadas, consultem os analistas de investimentos do seu Banco, e suas recomendações, para conhecerem melhor cada uma destas tão sólidas instituições.
Fontes: Ânima RI; Arco RI; Cruzeiro do Sul RI; Forbes; Infomoney; Money Times; Ser Educacional RI; YDUQS RI;
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